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segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Do livro do desassossego _ Bernardo Soares

"Assim como lavamos o corpo deveríamos lavar o destino, mudar de vida como mudamos de


roupa - não para salvar a vida, como comemos e dormimos, mas por aquele respeito alheio

por nós mesmos, a que propriamente chamamos asseio.

Há muitos em quem o desasseio não é uma disposição da vontade, mas um encolher de

ombros da inteligência. E há muitos em quem o apagado e o mesmo da vida não é uma forma

de a quererem, ou uma natural conformação com o não tê-la querido, mas um apagamento da

inteligência de si mesmos, uma ironia automática do conhecimento.

Há porcos que repugnam a sua própria porcaria, mas se não afastam dela, por aquele mesmo

extremo de um sentimento , pelo qual o apavorado se não afasta do perigo. Há porcos de

destino, como eu, que se não afastam da banalidade quotidiana por essa mesma atracção da

própria impotência. São aves fascinadas pela ausência de serpente; moscas que pairam nos

troncos sem ver nada, até chegarem ao alcance viscoso da língua do camaleão.

Assim passeio lentamente a minha inconsciência consciente, no meu tronco de árvore do

usual. Assim passei o meu destino que anda, pois eu não ando; o meu tempo que segue, pois eu

não sigo." (Bernardo Soares _ Heterônimo de Fernando Pessoa)
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Simples assim

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