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quarta-feira, dezembro 03, 2014

Ela

De quando em quando, muito raramente, o portal para o Éden se abre _ muito raramente _, uma alma e outra se migra, transcende, indo de cá para lá, de lá para cá.

Da terra se vai cedo, às vezes cedo demais, e muitas vezes almas se perdem. E do Éden, não muito raramente as reconhecemos, pois é como uma imagem envolta por moléculas de luz boreal...

E esta, na atmosfera estrangeira se instala. Aqui, na nossa terra, torna-se alma vivente. Sim, porque eles, esses seres iluminados, são seres de luz que a nós nos conforta o espírito. Mas só aquele de coração puro pode vê-los.


No paraíso, após o homem, este é um experimento que dera certo: almas purificadas. Tais seres é o próprio homem que retorna ao seu lugar de origem do qual fora exilado no princípio.

De quando em quando, muito raramente, alguém retorna, reencarna, para que tenhamos fé e testemunhemos que Deus existe e somos eternos à Sua imagem e semelhança. Esta _ luz esplendorosa, que agora me inspira e me induz a sonhos fantásticos _, aparenta ser doce e ardente _ paisagem suave, fruto silvestre.

Ela... Surgira assim, como o sol das manhãs de inverno, improvável e surpreendentemente brilhante. E a intrigante energia que dela incessantemente,ininterruptamente emana, penetra-me pelos poros e, dilatando minhas veias, acelera meu coração. Ativa-me, então, todas as sensibilidades. Tão raro!... Tão raro esse ar puro e nobre que simplesmente entorpece e alimenta a alma. Vulgarmente dizendo, ela me tira o fôlego, me causa calor e arrepios.

Noutros tempos aludir-lhe-ia incauto, tal flor no deserto, vigorosa e bela. Mas é uma simples estrela que vaga, sorri e canta _ por certo também chora; por certo chora e canta, humildemente entre os homens "mortais" para perfumar-lhes a vida.

O que canta uma flor, flor-estrela, cantará hinos?
Eu cantarei por ela. Hei de compor o cântico dos cânticos para exaltá-la. E construirei um altar, um lindo altar reluzente; para que ela repouse entre flores do jardim dos meus sonhos. 

Eu sempre construo um altar para os deuses _ e meu deus é real, sensível, palpável, de carne e osso, como era Jesus Cristo, papai e mamãe; também pra mim é deus a pessoa do bem, aquelas que eu amo e tudo aquilo que é belo e me inspira amor. Mas ela tem mais beleza que a tradicional beleza peculiar às flores raras, mesmo que seja aquela flor que na aridez projeta-se perfeito Oasis _, como é a flor da paixão. Toda a essência da natureza terrestre, humana, se encontra ali, delicadamente esculpida pelas mãos Divinas.

Minha consciência a chama deusa, musa, minha paixão. De quantos mais eu não sei.
A vida, agora, tornara-se ou tornar-se-á mais suave e colorida. _ Já era sem tempo, pois cheguei a pensar que todas as mulheres fossem iguais e que o peso da minha cruz era amar em vão. Mas sinto que a vida se torna mais leve sob o fardo esplêndido da ilusão.
E mais suave ainda se faz meu espírito leve; que leve se abre para o dia, e se desmancha, se dissolve, se expande acolhedor sob a resplandecência da luz que entra quando a porta se abre... E ela entra...

Quando pela manhã, antes que eu a veja, é uma ansiedade sufocante!.. _ é que somente após sua presença é que se define o dia, se de luz ou sombras. Antes disso sinto uma estranha angustia. Nota-se no ar uma tensão sem precedentes. Em todas as faces transparece apreensão e abandono. Às vezes alguém arrisca: será que a... ela não vem?

E então  ela chega. A sala se ilumina. Os semblantes suavizam-se; o riso desabrocha _ quase íntimo, egoísta, secreto. Ah!... Meu Deus, obrigado! Essas almas célebres, soberbas e carentes merecem essa dádiva.

E os pensamentos que permeiam minhas preocupações suavizam as dores, abranda minhas aflições e apresenta-me nova esperança. Contudo, inquietam-me estranhos desejos que fazem da razão submissa à fantasia. E, em êxtase, me deleito em sonhos, entregue ao intenso gozo íntimo que em mim aflora, simplesmente pelo seu toque de suas mãos ou deslumbrante sorriso.  Isso é milagre.

Mas, vez ou outra, rumores me entristece. _ Será?..., eu penso.
E de repente um olhar exclusivo, em minha direção, afaga-me como uma brisa de suave acalanto soprando meus pensamentos.

Eu? Não, não; de jeito nenhum. A ela, nada digo, apenas observo. Ela sabe ler nas entrelinhas, afinal, ela é iluminada. Contemplar o jardim a mim me basta; por que ambicionar da flor toda a essência se, pela ousadia, minhas mãos rudes podem ferir as pétalas e privar-me de todo encanto? Pela lei da natureza, toda beleza é patrimônio da humanidade e deve ser compartilhada.
 
Mas, por Deus, quantos desejos tenho!... Conhecer o perfume e inebriar-me, adormecer no seu abraço... , confesso, sou extremamente egoísta, meu maior desejo é possuí-la. 
Há quem cora as faces ao imaginar coisas, obscenas certamente. Certamente obscenas. Ou imaginando, apenas imaginando:
"Quanto terá de cintura, pernas, busto?! Que boca! E aqueles lábios..." Que boca!...
Eu? Apenas observo.

Eu a sinto permeando meus pensamentos, como uma ave arrumando o ninho, e quando por um instante a esqueço sinto no cérebro e na alma certo vazio.
O perfume chega antes, ou muitas vezes depois, e perdura. E fica.
Mais do que o perfume, algo sempre fica quando ela chega ou se vai. Eu apenas observo.
Só, sonhei tudo que se pode ser sonhado. Resonho, passo a passo, tudo de novo, repetidas vezes. Desejo de também ser pássaro, raio de luz, um astro, ave iluminada que seduz ao desejo de compartilhar o ninho. Ofereceria minhas penas, as mais macias, para o seu conforto; palavras de amor para perfumar nosso ambiente. E cantaria. Ah, cantaria. Cantaria o meu melhor canto, suave, longo, ou latente estribilho.

Está vestida de menina, hoje. Os olhares a segue; eu fecho
os meus. Acho que sinto ciúmes. Cabeças se movem mecanicamente. Muitos querem
avançar o sinal, eu diminuo a marcha, o ritmo, vou lento, espero antes da faixa à espera
do toque de permissão _ detenha-se ou não _, o olhar me diz. Não tenho pressa _ pra que correr? Tudo que eu quero é caminhar, seguir e, oxalá nunca tenha fim o caminho. Então, pra que correr se o que preciso são asas e aprender a voar?

Ela aparenta fragilidade incomum, tão frágil e linda ela é... Entanto, dispersando nuvens rompe a escuridão, perfuma a vida e amplia meu universo. Poderosa, é que é.
Linda sim, fragilidade é uma ilusão.

Ainda sou capaz de sonhar, embora sonhos sejam sonhos, meramente. Eu me recuso a crer, mas ela é apenas mulher. Mania essa, que eu tenho, de ver magia na simplicidade. Qualquer mulher nada mais é que simples mulher, o diferencial é a sensualidade. Talvez seja esta a razão do encanto: a sensibilidade, a meiguice e o todo sensual... Meu coração não resistiria.

Salce. De qual etnia? De qual origem? Viera da Espanha, Zamora, ou de algum paraíso estelar? Por que a ciência ainda não explica tal fenômeno? Alguém simplesmente existe, e nós sabemos que existe, mas tardamos tanto encontrá-la?! 
No entanto, é como se da eternidade que a tudo antecede já a amassemos desde então para sempre.

Mistérios dos deuses que se deleitam a brincar com nossas sensibilidades, entre tantas procuras, encontros e desencontros, nos dispõem a tanto para sabermos o que é viver.
Viver é bom. Viver é poder entregar-se às experiência e expectativas. 
Que venha o amanhã. 

Hoje, estou bem, estou feliz; ela está aqui.

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