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sexta-feira, fevereiro 23, 2007

"É" do otário

A estética da poética
Do diário
Do otário

_domingo

_ Pensar sentindo _
Dor e prazer
Chorar sorrindo.


Viver
Solidão e querer.



Essa tripla ação
Em mim se desenrola:
_ pensamento-sentimento-poesia _,

Tendo o amor protagonista dessa história
Partilho ao mundo
Da minha dor e alegria.

Enquanto o mundo nos devora
Outro mundo nos cospe, nos escarra, nos purifica
Nos defesa, nos degenera
“Nos mata, nos corre, nos morre”;
... E nos espera.

[O erro não está na gramática;
Nunca esteve na fonética
_palavras são palavras;
O erro nasceu no pensar pensado
E alojou-se na construção do verbo
No núcleo da síntese da aritmética sintética
Bem longe da concepção primeira da estética.

O pensamento pertence ao céu que o pensa
Azar dos aboizes que o espera.

O romantismo que no meu peito brota
Como água pura na fenda da pedra
Escorre no leito dessa gruta sombria

_Ou se fosse turvas águas
Ou lavas do eu vulcão
Não seriam puras
Sujas como borbulhantes são?_

Margeando o corpo que o gera.
A céu aberto corre feito rio
Às vezes água murmurante
Às vezes mansa poesia;

_O pássaro é meu
Também o céu;
Também a magma,
Ígnea,
A paisagem idéia
O espaço e o pincel.]

Hoje queda de cachoeira
Sol e brisa num espaço vazio.

Sol, sopro místico para meu coração ardente e romântico;
Amor, música e ritmo para o cântico dos cânticos.




* segunda


Ela está em cada palavra que se agita
E que se interpõe na frase que me conquista
Por melhor expressar meu pensamento
E com trabalho, muita dedicação e zelo
Eu as imprimo em versos
Para dar voz, cor e forma, ao sentimento.

Ela sabe disso, tanto quanto eu também o sei,
Escrevo como escrevera Anchieta à virgem,
Nas areias brancas,
Muitos porém não entendem o que sinto e escrevo,
Não concebem a forma que pensei.

Ah! Essas flores de infância
Que ainda hoje cultivo
[E recuso deixar no passado]
São sempre-vivas
Florescendo do meu lado.

Nesse caminho invisível,
No qual nos mantém o tempo calado,
Mal sabemos do tempo
Se presente é presente
Ou futuro finalizado,
Precisamos de flores
Sol
E sonhos alados.




** _ terça



Abraçar-te agora seria...
Estar a caminho do fim:
Incêndio ao mundo;
E dentro de mim.

Beijar-te seria
Sol no ocaso
Fim do dia.

Deixar-te no entanto,
Para o meu desencanto,
É penetrar na noite vazia.

Possuir-te agora seria dar um orgasmo intenso à minha poesia
Mas sabemos, prazeres passam,
E com eles a fantasia;
Amar-te, contudo, é isso:
Um prazer novo, infindável,
Que se renova, renova renova,
Num início sem início,
Um gesto
Um ato
Abstrato
Que antecede a eternidade
E se renova em sua vontade de se fazer de novo prazer
E sempre amanhece
Sem nunca anoitecer.



*** _


Leio às escondidas
Poemas que eu mesmo fiz
Distante de papel e caneta
Para deixá-los imaculados, livres,
Soes ou vis,
Tal como fui
Tal como sou
Tal como os concebi
Feios ou atraentes
Triste ou feliz.





**** quinta



Aquele eu que pensa no corpo de mulher
Homem libidinoso
Aquele que vê sua alma no reflexo d’água
E vê na sua alma a fonte.

A cede anda comigo.
Tarde nos encontramos.
Cheguei tarde, bem sei...
Tarde para mim que ainda estático procuro felicidade.
E o movimento se movimenta
Eu, entretanto, observo extasiado;
Indiferente, no entanto, pra você
Que já a possui desde a primeira idade.

Cheguei tarde, bem sei...
E bem quis duvidar do que você diz,
Mas, acredite, pensando com calma
Chego sentir alívio na alma
E sou feliz por saber que você é feliz.

Pelo menos sua felicidade é uma certeza,
E não uma fantasia, uma falsa realidade,
Pois muitos invejam da minha vida a beleza
Sem a mínima idéia da triste verdade.

Cheguei tarde, bem sei;
Tarde nos encontramos.
Tarde... Você sabe que eu te amo
Tarde para o amor e seu desengano;


Mas, por favor, ignore,
Mesmo que na sua presença eu chore
Encare como sendo por outro desengano;
Há muitos desenganos soltos, por aí, nesse plano.

Deixe-me apenas contemplá-la em silêncio
De detalhe em detalhe
Lento
Mas corpo completo
E com o tempo
Lento
Você aí no seu mundo
Sem necessidade de complemento:
Eu no meu mundo de busca
E você no pensamento.

Contudo sempre juntos
Amigavelmente como estamos
Sabendo que sonho sozinho
Você me esperando pelo caminho
E nesse exato momento nos encontramos.

Tarde demais
Bem sei.


***** sexta-feira


Bem sei, é sonho.
Abraçar-te agora seria “botar em cheque” sua felicidade,
Seria um risco.


Tolice;
Beijar-te agora seria renascer
Outro desejo menino
Para o gozo do mesmo vício,
Para o mesmo fim;
Seria
Maior irresponsabilidade do destino.





****** sábado



Repercuta o passo do homem,
Nessa vida fútil e indecisa
Se monótona ou excitante,
Como sons de gotas da fonte;

Pra que sentido, pra que rima?

Os membros perderam a sintonia nas profundezas da auto-estima.

Há tanto o que construir e tão pouca matéria prima!

Não procuro, nas palavras, a beleza da forma no sentido; procuro apenas um pensamento amigo.

O pensamento e seus reflexos em turbilhões
Na corrida por uma nova poética
Esmoreço meu corpo e o deixo aos ventos
Pra onde soprarem a transparência da clareza dos sentidos.

Talvez um opaco diário
Como um cântaro de barro queimado
Guarde a essência de toda ciência
Do universo da mente de um otário.

Mas se ecoa e reflete é porque já não é tão simples
E o simples não é necessariamente pobre ou complexo
Talvez dessa opacidade brote e escorra
Alguma alegria, ou mesmo dor, algum valor,
Alguma paisagem,
E da qual terei saudade.



******** domingo

Ser-nos-á preciso baixar a fronte, os olhos, cobrir o rosto, nos ignorarmos, para não demonstrar nossos sentimentos, os quais enaltecem o espírito e valoriza o homem?


Humanos, é o que somos; e o amor _nossa maior virtude _ é preciosidade cada vez mais rara.
Nos ignorarmos!...

*



Entendi.
Hoje entendi, ela é rica;
E eu...
Melhor nos ignorarmos!

...

Nos ignoramos.



*


Eu, esquisito e pobre:
Tenho o meu salário,
Minha flauta de bambu
Minha adolescência, e o cafezal em flor.

Hoje tudo que tenho é passado:
Aquele tempo que não vivi,
Por ambicionar o hoje tão longínquo e agora interminável,
O presente sem sentido que não cabe aqui, nem no futuro nem no passado,
E o futuro é bonito o bastante para não ser desejado.

Tenho esperanças porque tenho ainda o pessimismo
E quem tem alguma coisa, tem alguma coisa
Pois não ter nada ou nada ter, é ter falta; e ter falta é ter algo.


*


Meu otimismo foi se convertendo se convertendo
E pouco e pouco se consumindo
Tornou-se solilóquio.
E tem em si um amigo que o consome
A gritos sonantes de colóquios impróprios.

Mas ele o alimenta para ter o que ter amanhã
Pois tendo em si próprio convertido de si o pessimismo
Tem sempre a si para algum colóquio.


Minha flauta emudeceu e o que resta da juventude é a insônia e a impaciência nessa insatisfação de viver.

Para encontrar um grande amor e não possui-lo, melhor seria passar pela vida como homem;
Comum.
Animais mamíferos que só mamam
E mamam e transam
E transam apenas bicho
Que transam;
Mas transam,
Bicho.

Mas é por mim que tocam, hoje, os bandolins
Abrem-se flores de entre os pedregulhos
Ao som das trombetas do juízo do juízo final.


*

Eis aqui os erros
Do início ao fim
Na nova visão
Da poética fatal.

Arquivo:
http://poetray.blogspot.com

Trechos: Nova poética
http://ray.ray.zip.net

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