Meus livros

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sexta-feira, agosto 31, 2007

Chove

Desde ontem chove.
Ininterruptamente chove.
Meu Deus, como chove!

Uma enxurrada devastadora desce,
Levando sonhos...
Arrasta grinaldas e trepadeiras
Leva tudo: marias e margaridas;
Nuvens hospedeiras...
Revolve o obscuro
Extrai a seiva às entranhas
E deixa expostas raízes.
E chove.
Torrencialmente chove.
Desde ontem chove!
Ontem, não sei quando...

Águas imundas inundam planícies;
Do alto se vê lama,
Como manto sujo estendido,
Uma mancha de dor e saudade, no gosto,
Meio que doce, no nada vivido.
E chove!
Chove múica.
A música que chove, chove num grito,
Um gemido.
Chove como nunca!

Mal posso ver os meus pés!...

Chove às enxurradas!
Tudo pára nas encostas,
Se espalha pela margem...
Depois de tudo, acaba.
Acaba; tudo acaba.
Bem ou mal, tudo finda, tudo termina;
Acaba!...
E torna-se fértil a várzea.

terça-feira, agosto 28, 2007

BOLETIM _ Sobre o resultado do Enem

"Enem divulga resultado em novembro

O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) irá divulgar na segunda quinzena de novembro o boletim com os resultados do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
O resultado será enviado aos candidatos pelos Correios e também estará disponível na internet, no site www.inep.gov.br. Realizado no último domingo, o exame contou com a inscrição de 3,5 milhões de estudantes, 200 mil pessoas a menos que em 2006, segundo o Ministério da Educação."

Só em novembro!?
É o que se lê por aí; isso é um absurdo, não acha?

segunda-feira, agosto 27, 2007

Luiz Vaz de Camões

_ Carlos Nejar _

Não sou um tempo
ou uma cidade extinta.
Civilizei a língua
e foi resposta em cada verso.
E à fome, condenaram-me
os perversos e alguns
dos poderosos. Amei
a pátria injustamente
cega, como eu, num
dos olhos. E não pôde
ver-me enquanto vivo.
Regressarei a ela
com os ossos de meu sonho
precavido? E o idioma
não passa de um poema
salvo da espuma
e igual a mim, bebido
pelo sol de um país
que me desterra. E agora
me ergue no Convento
dos Jerônimos o túmulo,
que não morri.
Não morrerei, não
quero mais morrer.
Nem sou cativo ou mendigo
de uma pátria. Mas da língua
que me conhece e espera.
E a razão que não me dais,
eu crio. Jamais pensei
ser pai de santos filhos

quinta-feira, agosto 23, 2007

A DANÇA E A ALMA


A DANÇA? Não é movimento,
súbito gesto musical.
É concentração, num momento,
da humana graça natural.
No solo não, no éter pairamos,
nele amaríamos ficar.
A dança – não vento nos ramos:
seiva, força, perene estar.
Um estar entre céu e chão,
novo domínio conquistado,
onde busque nossa paixão
libertar-se por todo lado...
Onde a alma possa descrever
suas mais divinas parábolas
sem fugir à forma do ser,
por sobre o mistério das fábulas.


(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)

domingo, agosto 19, 2007

AVES DE ARRIBAÇÃO

Pensava em ti nas horas de tristeza,
Quando estes versos pálidos compus,
Cercavam-me planícies sem beleza,
Pesava-me na fronte um céu sem luz.

Ergue este ramo solto no caminho.
Sei que em teu seio asilo encontrará.
Só tu conheces o secreto espinho
Que dentro d'alma me pungindo está.
Fagundes Varela

Aves, é primavera! à rosa! à rosa!
Tomás Ribeiro


Obas: Do livro Espumas Flutuantes _ Castro Alves.

quinta-feira, agosto 16, 2007

O mundo sem Platero

Que saudades de Platero!

Que saudade, Platero! Que saudade!...
Saudades das nossas andanças
Nossos segredos
Nossas críticas
Nossa visão do mundo;
Dos seres e coisas
Do estado do Estado do estado...
Visto, dito, e adotado,
Surgindo num azul profundo
E se lançando aos horizontes sonhados
Com todas as tênues cores do mundo.
Mas o mundo, apesar do verde, do verde, do verde... nunca amadurece.
Nossas crianças ainda morrem desnutridas
E nossos velhos heróis ainda padecem.

Saudade das crianças!
Nossas guerras de frutos e flores
Nossas desavenças e nossos amores.
E a umbrosa árvore do nosso descanso
Onde deitávamos a mirar nuvens
Ou balouçávamos nos galhos num suave remanso.
Lembro-me das amoras, tão doces!
E nossas bocas sorridentes e roxas.

Lá dorme Platero!...E eu com ele!
E eu com ele!...
Num sono profundo; sonhando...
Sonhando e sorrindo.
Sonhando que bebe estrelas
Pasmo por a si mesmo se ver no fundo do poço de água cristalina.

Lá, ele ainda vagueia a pascer,
E o campo é amplo, verde e denso,
E as suculentas gramíneas verdejam
E nunca deixam de crescer;
Crescem, crescem, nas serras e veigas...
À margem corre o rio imenso.

Platero ainda cheira a flores: De parreira...
De capim, de cerejeira, de morango, de crianças;...
Sempre flores! Rosas, amoras e oliveiras.
_ Seu cheiro é eterno!
E seu dorso ainda vermelho
Com aroma de morango
Num misto agridoce de cereja
Carreando o bem-te-vi,
Hora o sabiá, o cuco e o gavião.
Enquanto eu, preguiçoso, vôo mais alto
Além da nuvem em formação.

Nossas histórias...
Só nós sabemos que foram vividas.

E a tísica? a do leite de cachorra;
E a volta pra casa!
... Só tu não voltas Platero!
Mas tu estás comigo. Cada vez mais comigo!
Nunca o senti distante; e sim,
Cada vez mais próximo.
Nunca o senti como um burro, Platero, bem sabes,
Sempre o tive como melhor amigo.
E após tal perda e esta solidão
És ainda mais que amigo
És minha metade de vida, meu legítimo irmão!

E as beatas com vestes de missa temendo o lamaçal?
A carruagem enguiçada? _ aquela da humilde família em mudança!
Lembra-te da laranja? A sua!
... E o sorriso meigo daquela criança?!
Fizeste o gesto mais nobre, Platero, que já vi em toda minha vida.
Mas eu me lembro de todos os seu gesto, todos;
E suas dores, por mim ainda são sentidas.
Ah! Aquela sanguessuga! Tive muita pena de ti. Quanta aflição!
E aquele espinho que perfurou sua pata ainda parece furar meu coração.

Ainda queimam Judas.
Ainda enfeitam ruas na véspera da paixão.
Ainda fazem folias e catam à espera de ressurreição.

Ainda queimam Judas...
E tantos Judas ressuscitam.
Só os cristos sempre morrem
E levam consigo a esperança de salvação.

Do alto da minha colina eu vejo tudo.
Eu vejo com os meus e os teus olhos.
Os olhos humanos cada vez mais se cegam
Porque os olhos cegos nunca e enganam.

Contudo, Platero, vale a pena viver.
Ainda se vê primaveras
E após as quaresmeiras florescem os ipês.
E as poucas florestas que restam são vistas
São defendidas por anônimos e artistas.
E fotografadas por turistas
Certamente jamais irão morrer.

Mesmo assim vale viver, vale muito a pena viver!
Pois ainda há quem faça poesia
Há quem fala às flores
Há quem aprende com as águas e suspiram
E solidários despoluem seus odores.

Ah, Platero!... Nossos atalhos, nossos desvios, não nos leva a lugar nenhum.
Tudo que temos é o que somos
E o que o mundo nos tem de igual em comum.
Somos eternos peregrinos
Andando não se sabe pra onde,
Só sabemos que vamos
Colhendo daqui e dali
E no fim nada levamos.

As fugas das estradas
Nossos improvisados trilhos
Nossa ânsia por voar
De menino para homem
De pai para filho
E de velho outra vez menino...
Nós somos apenas poeira
E qual estrelas, para quem teve o céu,
O céu guarda seu brilho.

O canário a cantar na copa das oliveiras
Guarda no canto o canto que procuro
E juro, amigo, não há no mundo maior e mais belo estribilho
Do que o canto da noite a dispersar-se o escuro.

Meus cabelos já não são mais grisalhos...
Minha fronte teima em declínio...
Declinam para a irrealidade.
Meus olhos vêem cores guardadas
Cores vivazes impressas na cortina da saudade.

O seu pelo dourado ao sol, que lindo brilho!
Nunca mais vi graça em andanças
Hoje sou apenas um andarilho.
Vejo o mundo por uma estranha janela
E tudo se passa num segundo;
Meu mundo é um espaço virtual
E eu universo, um quintal sem entrada e sem fundos.

Acho mesmo que me deitei contigo, aí.
Aí, nesse poço de estrelas...
Nesse vácuo
Nesse breu abaixo
Abaixo desteoutro submundo.


Obs: Este foi um texto produzido sem nenhuma intenção de avaliação ou descrição real da obra literária; trata-se simplesmente de uma brincadeira de um amador que, a propósito é grande admirador da fantástica obra poética de (Juan Ramón Jiménez): "Platero & Eu".

quarta-feira, agosto 15, 2007

O verso de hoje _ Para a minha estrela do sul...

Por uma dor de ontem.
_ Versos à Márcia.

Ah! Essas rimas surdas
Às vezes sonoras
Às vezes sujas...
Outras tantas absurdas;
Quais teimam conjugar-se no infinitivo tempo
Casar mê com lhê
Em frase solta e impotente
Cujo clã é passado
E jamais será presente.

Prole conjugada ao vento
Na voz secular da plêiade boêmia,
Sobreviventes de tempos e tempos,
Canta dores eternas e eternos gozos
Dos gozos nossos, gozos mudos,
Gozos de noites e ventos
Qual nunca se teve e nunca teremos.

O gênero sempre muda
Menos a forma e a perfeição;
Contudo cantam nobres versos
Apenas dor, pobreza e solidão;
Vagueiam espectros
A ritmo de passos nômades
À pena de condor, ave forasteira,
Dispersos dos Andes.

Donde viemos não importa
Se de uma janela
Se de uma porta
O que importa é o tempo
A partida e a chegada
Ou vice-versa;
Não importa a estadia
A vida sempre corre depressa.
O que importa ao verso é a música
E a alma cuja voz o expressa.

terça-feira, agosto 14, 2007

Dom

Ó viajem! Ó veleiro galáctico, meu coração!
A viajar nos pampas do espaço,
Noite após noite,
A procura de uma estrela para minha escuridão.

Nessas horas solitárias,
Em que vagueia a lua pela madrugada
Beijando flores recém-nascidas, semimuas, e nuas...
Nas densas florestas e minúsculos jardins,
De vias públicas e secretas veredas,
Tristes são as ruas...
Com o queixo apoiado na mão,
Cotovelo a perfurar dolorido fêmur,
Ou mãos segurando o cérebro sob o peso do que penso...
Absorvo cauteloso o pensamento
Concentro-me na essência desse silêncio
No qual guardo os sentimentos mais profundos e
Capturo da lua e das estrelas a luz
Qual fulgência fizera-me sonhar feliz
Enquanto meus olhos visualizavam estranho mundo...
Onde a encontrei.
Temos senhas e nomes: Eu?
_Raykiss, Lheguelhé, Ray poetray.
Ela?... Não sei.

Insânia; Ou sanidade pagã, certos atos
Que não são reais nem fantasias
Porém chega ser a única alegria dum’alma aflita.

Insanidade pura,
De poder de sedução,
O brilho do olhar e os céus dos olhos
Na meiga face da ilusão.
Ilusão de quem lê,
Ilusão também daquele que digita.

Insanidade sã essa beleza pagã
Que vejo nos céus virtuais
A flutuar nas páginas adornadas de uma moderna escuridão
Que em códigos digitais se formam como estrela da manhã.

Olhares e faces
Afetos e desafetos
Mentes e mentes
Insanas e sãs
Mas que guardam detrás da negra cortina, em si, um coração.

Verdes pâmpanos a adornar seu corpo
Em vez de braços em abraços e lençóis brancos
Enrolas no vazio complexo da Internet
O trauma, a desilusão, a esperança...
E se aquece e se esquece ao próprio calafrio.
E sem apego a carências de si mesma se entrega
Enquanto a noite passa lentamente
E a lua se perde no infinito escuro de azul;
Mas aqueces outras almas carentes
Nos quatro cantos do mundo
Muito além das Américas
Muito além dos pampas do Sul,
Muito além do sono e do silêncio profundo.

Amor estranho, o amor tão distante:
... Amor virtual, futurista, amor turista.
Amor de carnaval.
Amor de Otelo,
Amor e Mítia
_ Título de Dom.
Título que passa
Amor de ressaca
Amor praiano
Amor de Capitu
_ Rainha sem rei.
Amor de Dama
Amor... Amor de dom,
De Dom Poetray.

A página de hoje

13 de agosto

“Sim, são muitos os que perderam o espírito por causa de mulheres e que, por elas, se tornaram escravos. Numerosos, também, os que, por causa delas, pereceram, erraram ou pecaram... Homens, como quereis que s mulheres não sejam fortes, vendo-vos agir assim?”_ ESDRAS.


A página de hoje
Para minha queria Ros@ne

Tive um dia cheio.
Logo no amanhecer tudo já parecia estranho.
_A manhã sugira com ares de rebeldia na sua face de meninice
E sua infantilidade podia ser percebida nos seus atos de inocentes peraltices.
Inocência?... Talvez malandragem; esperteza de sua adolescência.

Toda a jovialidade do dia deixou-se envolver, e eu, com ele.
Eu, que da aurora da minha vida só tenho lembranças do perfume inebriante, das flores, do brilho das cores e do riso da facécia da criança singular despertando para o dia em cada amanhecer! Isso sempre foi alento para as minhas reminiscências.

Tive um dia cheio! E ele ainda não chegou ao fim.

Bem, antes mesmo de abrir os olhos pressenti que tudo seria diferente;
E foi.
Senti cheiro de café enquanto ouvia pássaros cantando,
E da fresta da janela vi um raio de sol...
Não sei porque, pensei em frutas ao invés de flores e mulheres.
Não ouvi SEBASTIAN BACH por opção, o rádio por si o acionou “prelude”
_ minha favorita.
E em seguida veio CHOPIN, numa seqüência de sinfonias extraordinárias interpretada pela orquestra sinfônica da cidade de SP.
Eu pensei em VICTOR YORAN e, não sei porque, em CIVUCA.
Depois não prestei atenção em mais nada, nem nos Roks que se seguiram,dos quais eu tanto gosto.

Para contrariar a lei de MURPH peguei a banda do pão no ar, antes de tocar o chão;
Só perdi os farelos crocantes, mas sempre se perde alguma cosa para se ganhar outros montantes.

Ao ligar o PC tinha mensagens e beijos.
_ Adoro meus amigos do orkut _
Um “ BOM DIAAAAAAAAAAAAA... da minha querida Ros@ne; linda!!!!
E anexo a mais linda mensagem que já li.
E tudo que ela me desejava estava a acontecer:
O dia lindo, de um amanhecer de graça e de luz,
E a esperança à frente, levando minha bandeira e minha cruz.

Meu espírito já sorria então; vi que a vida estava sorrindo.
E como ela, Ros@ne, desejara, eu estava cheio de ânimo.
Só faltava mesmo todo aquele ânimo perdurar até amanhã,
e depois de amanhã, e depois e depois...

Lá aonde fui todas as ruas tem nome de flores
E em algumas até pude ver flores.
Ganhei olhares e sorrisos...
E meu zíper não estava aberto!
Houve até quem parasse ao me ver sentado debaixo de uma árvore lendo Drumom.
Alguém se preocupou ao me ver fazendo anotações num pedaço de papel apoiado no tronco de um coqueiro e me ofereceu ajuda.
E após constatar que eram versos o que eu escrevia
Deu-me então um belo poema pela minha imprudência vadia.

Aquela mulher disse que eu era simpático...
E de cabelos cortados e barba feita eu me senti realmente bonito.
A não ser o orelhão ter engolido meu cartão, tudo andava bem.
Minhas expectativas foram superadas.
Não tive todo o sucesso necessário, ou motivo pra tanta alegria;
Mas foi o meu melhor começo,
O melhor começo de um novo dia.

Tive um dia cheio!...
Meus dias são sempre cheios...
Vou levar muito dele para o amanhã
Porque não quero que ele se acabe.
Quero-o como a um eterno amanhecer!
Quero-o com flores e estrelas...
Quero-o com o brilho das amizades
Com efeitos especiais
Com espaços infinitos e encontros inesperados.
Com os mensageiros de otimismo
Com minha deusa de brilho interstelar...
E até os fantasmas intergalácticos os quero.
Quero tudo de hoje no amanhecer do dia que ainda espero.

Quero Ro@ne...
Quero Márcia...
Quero Sol...
Quero Sereno...
Quero Brisa...
A flor do dia...
A doce poesia...
E a realidade em fusão com esta fantasia.

Minha querida Sane
Neste dia, boa tarde!
E cedo ou tarde
Desejo-lhe sempre bom diaaaaaaaaaa!....

domingo, agosto 12, 2007

Alento ao desalento

_ Um riso para o meu pranto!

Tenho os passos firmes
Agora que estou agarrado a tuas mãos invisíveis.
Confio nos teus atos seguros
Confio na tua atenção para comigo
No teu cuidado de Pai
No teu capricho de mãe
No teu zelo de amigo.

Hoje tenho os s passos firmes
Porque sei que não estou só
E que jamais estarei;
Pois sei que até o próprio chão
Criaste para amparar-me
E as pedras dão sentido ao meu caminho.

E por todo universo existem estrelas.

Mãos que outrora me acariciavam
Hoje, aplaudem meu descontrole e meu vacilo.
A voz que dizia prelúdios de amor
Hoje, resmunga augúrios a minha desilusão.

Mas sou forte.
Tenho os passos firmes.
Ao chão decairei somente após a morte.
Mas meu espírito, bem sei, até em tal circunstância, ascenderei glorioso
Levado pela brisa de tua misericórdia protetora.

Não decairei jamais
Nas profundezas do abismo,
Como antes andei, abatido e desprezível,
Sob o domínio da turbulência dos insensíveis.

Liberto, agora, está minh’alma das presas do vício,
Das armadilhas do sexo,
Das façanhas dos desejos complexos,
Sem precedentes fixos num sentimento completo
Que seja de benção divina e que abençoa,
Que seja amor verdadeiro, humano,
Próprio de quem ama, compartilha, e perdoa.

Sinto frio.
Meu corpo arde de carência e desejo.
Tudo em meu pensar me leva a promíscuos anseios
De viver uma emoção de prazer e satisfação;
Contudo, o que me vem de bom grado é pecado
E o que me vem da benção de matrimônio
Vem-me como por obrigação ou engano.

Muito já lamentei meu destino,
O presente de um futuro em projeção

Na minha velha face de menino;
Não obstante, hoje, não rio,
Também não choro,
Sou indiferente à carne,
Sou mais teu espírito consolador,
_ Barco, âncora, vela, e o leme em vossa mão.
Sou o barco à deriva navegando
Sobre s ondas turbulentas
E mesmo quando no vácuo horripilante da maré
Ceio, em paz, da fartura do teu alento.

E vendo o reluzir do céu fulgente em pranto
Doando ao mar sereno e vento
Durmo na paz do teu acalanto.

É; São assim meus dias nos últimos tempos...
Não falo de mim
Não murmuro aos ventos
Não quero dividir dor;
Não darei a outro o sabor do meu sofrimento.


Não falo de mim
Porque a outro pareceria tormento
Ninguém entenderia que minha dor não é simplesmente dor,
E sim, riqueza que faz crescer um espírito em desenvolvimento.

Vou assumir os pecados perante o mundo
Os meus
Os dela
Os deles...
E de quem mais quiser que eu assuma.
Assumirei pecados e penitências,
E ainda porei meus arrependimentos em suma.


Hoje; logo hoje!
Dia em que a data pesa mais que a cruz
E o domingo é mais sangrento que o dia da paixão;
Não que eu queira me comparar a Cristo
Mas meus dias são antevésperas e vésperas
E nunca manhãs de ressurreição...

Minha cruz não pesa mais que pétala ao vento
Ou o madeiro sobre o cérebro das formigas
Porém, para um homem nada mais é tortura
Que a tortura de noites e noites mal dormidas.

Novamente estou casto
Como jovem sacristão
Que abre mão da namorada
Para glória da devoção.

Ingenuidade de criança
Que não sabe o maior mandamento:
Amar a Deus sobre todas as coisas,
E de toda tua alma,
E a ti mesmo que é o próximo mais próximo
E de Deus Divino templo.

Mas a Deus pertence o tempo
Como o homem pertence aos ventos da emoção.
Vou de barco, vou de pé, vou de vento, de sonhos
De poeira de constelações
Vou de cruz aos ombros e cravos
Ditando meu pergaminho,
Mas vou, quedando-me e caindo,
Mas de pés firmes no caminho
Porque tenho o afago Divino
E uma mão na minha mão.

sábado, agosto 11, 2007

Equinócio

Gira, gira, gira terra
Dá-me noite
Dá-me dia
Equinócio de outono e primavera
Dá-me luz e alegria.

Gira, gira, gira terra, gira!...
Translada o todo por inteiro
Que não percas Coaracy
Faz-se tempo tempo inteiro.

Eu também vou girando, girando...
Às bordas dessa ciranda má.
Sou um grão nessa cadência
E quem joeira?..
_ Sabe-se lá!

Cada vida é um verso
Num poema, uníssono, sem fim
E cada átomo do universo
Num átimo chega ao fim.

A cada ismo _ dogma _ que se cria
Um deus se diviniza
A cada nova teopsia
A Deus verdadeiro se dizima.

Por isso gira; gira terra, gira!
Enamora-se do sol
Não se deixe anoitecer
Não perca a ópera
Não perca a órbita,nem o perca,
Não se perde um bem querer.

Eis que vivo, agora, girando, girando...De sol a sol,
Por mais querer,
Aquecer-me d’outro sol
Por querer mais-que-querer.

sexta-feira, agosto 10, 2007

Bocas Roxas - Ricardo Reis (heterônimo de Fernando Pessoa)

Bocas roxas de vinho,
Testas brancas sob rosas,
Nus, brancos antebraços
Deixados sobre a mesa;
Tal seja, Lídia, o quadro
Em que fiquemos, mudos,
Eternamente inscritos
Na consciência dos deuses.
Antes isto que a vida
Como os homens a vivem
Cheia da negra poeira
Que erguem das estradas.
Só os deuses socorrem
Com seu exemplo aqueles
Que nada mais pretendem
Que ir no rio das coisas.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Todas as cousas que há neste mundo

"Todas as cousas que há neste mundo
Têm uma história,
Excepto estas rãs que coaxam no fundo
Da minha memória.


Qualquer lugar neste mundo tem
Um onde estar,
Salvo este charco de onde me vem
Esse coaxar.
Ergue-se em mim uma lua falsa
Sobre juncais,
E o charco emerge, que o luar realça
Menos e mais.
Onde, em que vida, de que maneira
Fui o que lembro
Por este coaxar das rãs na esteira
Do que deslembro?
Nada. Um silêncio entre jucos dorme.
Coaxam ao fim
De uma alma antiga que tenho enorme
As rãs sem mim."_Fernado Pessoa

sábado, agosto 04, 2007

Que suave é o ar! Como parece _ Fernando Pessoa

Que suave é o ar! Como parece
Que tudo é bom na vida que há!
Assim meu coração pudesse
Sentir essa certeza já.
Mas não; ou seja a selva escura
Ou seja um Dante mais diverso,
A alma é literatura
E tudo acaba em nada e verso.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Flor menina

Coroai-me,
Flor menina,
Coroai-me;
Nesta noite coroai-me.

Coroai-me com teu olhar
Mesmo que seja um olhar furtivo;
Mesmo que seja apenas um flerte
Desses que nos deixa inibidos e cheio de dúvidas;
Desses, que nos faz suspirar sem razão;
Simplesmente por ser esta razão superior e mais pura, inalcançável ao nosso entendimento.
Um flerte!... Desses que por si sacodem o silêncio com voz de trovão
E somente a alma o ouve como fosse melodia.

Coroai-me, flor menina, nessa noite,
Coroai-me com teu sorriso
Com esse sorriso que só teu olhar possui.
Corroai-me de pétalas
Essas pétalas que como raio escapam dos seus olhos e clareia minha existência.

Ah! Essa esperança...
Essa esperança oblíqua
Nessa espera iníqua
Nesse desejo profundo,
Sobrevivente das malícias do mundo,
De sentimentos profanos e imundos, que condenam a beleza da inocência de um sentimento tão puro.

Coroai-me, nessa noite, flor menina,
Com tua presença e teu riso discreto e tímido...
Não se perturbe por mim, não por mim,
Apenas fique, aqui, quieta como sempre
Mas com certeza a minha noite se iluminará.
E deixe que meus olhos guardem n’alma toda tua sublime essência
Como lembranças e espanto de um eclipse.
Google
 

Simples assim

Simples assim