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quinta-feira, agosto 16, 2007

O mundo sem Platero

Que saudades de Platero!

Que saudade, Platero! Que saudade!...
Saudades das nossas andanças
Nossos segredos
Nossas críticas
Nossa visão do mundo;
Dos seres e coisas
Do estado do Estado do estado...
Visto, dito, e adotado,
Surgindo num azul profundo
E se lançando aos horizontes sonhados
Com todas as tênues cores do mundo.
Mas o mundo, apesar do verde, do verde, do verde... nunca amadurece.
Nossas crianças ainda morrem desnutridas
E nossos velhos heróis ainda padecem.

Saudade das crianças!
Nossas guerras de frutos e flores
Nossas desavenças e nossos amores.
E a umbrosa árvore do nosso descanso
Onde deitávamos a mirar nuvens
Ou balouçávamos nos galhos num suave remanso.
Lembro-me das amoras, tão doces!
E nossas bocas sorridentes e roxas.

Lá dorme Platero!...E eu com ele!
E eu com ele!...
Num sono profundo; sonhando...
Sonhando e sorrindo.
Sonhando que bebe estrelas
Pasmo por a si mesmo se ver no fundo do poço de água cristalina.

Lá, ele ainda vagueia a pascer,
E o campo é amplo, verde e denso,
E as suculentas gramíneas verdejam
E nunca deixam de crescer;
Crescem, crescem, nas serras e veigas...
À margem corre o rio imenso.

Platero ainda cheira a flores: De parreira...
De capim, de cerejeira, de morango, de crianças;...
Sempre flores! Rosas, amoras e oliveiras.
_ Seu cheiro é eterno!
E seu dorso ainda vermelho
Com aroma de morango
Num misto agridoce de cereja
Carreando o bem-te-vi,
Hora o sabiá, o cuco e o gavião.
Enquanto eu, preguiçoso, vôo mais alto
Além da nuvem em formação.

Nossas histórias...
Só nós sabemos que foram vividas.

E a tísica? a do leite de cachorra;
E a volta pra casa!
... Só tu não voltas Platero!
Mas tu estás comigo. Cada vez mais comigo!
Nunca o senti distante; e sim,
Cada vez mais próximo.
Nunca o senti como um burro, Platero, bem sabes,
Sempre o tive como melhor amigo.
E após tal perda e esta solidão
És ainda mais que amigo
És minha metade de vida, meu legítimo irmão!

E as beatas com vestes de missa temendo o lamaçal?
A carruagem enguiçada? _ aquela da humilde família em mudança!
Lembra-te da laranja? A sua!
... E o sorriso meigo daquela criança?!
Fizeste o gesto mais nobre, Platero, que já vi em toda minha vida.
Mas eu me lembro de todos os seu gesto, todos;
E suas dores, por mim ainda são sentidas.
Ah! Aquela sanguessuga! Tive muita pena de ti. Quanta aflição!
E aquele espinho que perfurou sua pata ainda parece furar meu coração.

Ainda queimam Judas.
Ainda enfeitam ruas na véspera da paixão.
Ainda fazem folias e catam à espera de ressurreição.

Ainda queimam Judas...
E tantos Judas ressuscitam.
Só os cristos sempre morrem
E levam consigo a esperança de salvação.

Do alto da minha colina eu vejo tudo.
Eu vejo com os meus e os teus olhos.
Os olhos humanos cada vez mais se cegam
Porque os olhos cegos nunca e enganam.

Contudo, Platero, vale a pena viver.
Ainda se vê primaveras
E após as quaresmeiras florescem os ipês.
E as poucas florestas que restam são vistas
São defendidas por anônimos e artistas.
E fotografadas por turistas
Certamente jamais irão morrer.

Mesmo assim vale viver, vale muito a pena viver!
Pois ainda há quem faça poesia
Há quem fala às flores
Há quem aprende com as águas e suspiram
E solidários despoluem seus odores.

Ah, Platero!... Nossos atalhos, nossos desvios, não nos leva a lugar nenhum.
Tudo que temos é o que somos
E o que o mundo nos tem de igual em comum.
Somos eternos peregrinos
Andando não se sabe pra onde,
Só sabemos que vamos
Colhendo daqui e dali
E no fim nada levamos.

As fugas das estradas
Nossos improvisados trilhos
Nossa ânsia por voar
De menino para homem
De pai para filho
E de velho outra vez menino...
Nós somos apenas poeira
E qual estrelas, para quem teve o céu,
O céu guarda seu brilho.

O canário a cantar na copa das oliveiras
Guarda no canto o canto que procuro
E juro, amigo, não há no mundo maior e mais belo estribilho
Do que o canto da noite a dispersar-se o escuro.

Meus cabelos já não são mais grisalhos...
Minha fronte teima em declínio...
Declinam para a irrealidade.
Meus olhos vêem cores guardadas
Cores vivazes impressas na cortina da saudade.

O seu pelo dourado ao sol, que lindo brilho!
Nunca mais vi graça em andanças
Hoje sou apenas um andarilho.
Vejo o mundo por uma estranha janela
E tudo se passa num segundo;
Meu mundo é um espaço virtual
E eu universo, um quintal sem entrada e sem fundos.

Acho mesmo que me deitei contigo, aí.
Aí, nesse poço de estrelas...
Nesse vácuo
Nesse breu abaixo
Abaixo desteoutro submundo.


Obs: Este foi um texto produzido sem nenhuma intenção de avaliação ou descrição real da obra literária; trata-se simplesmente de uma brincadeira de um amador que, a propósito é grande admirador da fantástica obra poética de (Juan Ramón Jiménez): "Platero & Eu".

Um comentário:

Em busca da sua *e*s*t*r*e*l*a* maior disse...

Quando as nuvens negras dos pensamentos tormentosos cobrirem com escuro véu o horizonte de tuas esperanças e a barca de teu coração agitar-se, desgovernada, sobre as ondas...
Quando as obrigações diárias, as dificuldades e os problemas, as surpresas - nem sempre agradáveis -, levarem-te a dizer: - que dia!
Lembra-te...
Caía a tarde e a multidão ainda estava reunida na praia.
Desde que o Sol surgira, Jesus atendera as incontáveis súplicas daqueles que o buscavam. Mãos e lágrimas roçavam-lhe o rosto e a túnica - antes tão limpa e alva - e agora, toda manchada de lamentos.
Finalmente, chegara às margens do lago, vencendo a dor e as tristezas dos sofredores. Aqueles que O viram deixando atrás de si um rastro confortador de estrelas, perguntavam-se: - quem será este homem, a quem as dores obedecem?
O céu acendia as cores da noite quando a barca de Pedro recolheu preciosa carga.
Jamais Jesus mostrara na face sinais tão evidentes de cansaço. Acomodado sobre uma almofada de couro, Sua majestosa cabeça pendeu sobre o peito, como um girassol real despedindo-se ao poente.
Seus lábios deixaram escapar um longo suspiro antes de adormecer. Seus amigos pescadores não ousaram perturbar-lhe o merecido sono, manejando remos com cuidado, auxiliados pelos sussurros de doce brisa.
O lago de Genesaré assemelhava-se a gigantesco espelho de prata ao luar, tranqüilo e sereno como o Mestre adormecido.
Faltava pouco para completar a travessia, quando tudo transformou-se.
O tempo irou-se, sem aviso. Adensadas, as nuvens de gaze leve tornaram-se tenebrosa tempestade, e o lago esqueceu a calmaria, encrespando-se, açoitado pelo vento.
Para a barca, vencer a tormenta era como lutar contra vigoroso e invencível Titã.
Pedro usou toda a sua força e sabedoria nos remos, gritando ordens que se perdiam entre as gargalhadas dos trovões e dos relâmpagos.
Os discípulos assustados correram a acordar Jesus que ainda dormia.
- Mestre! - exclamaram em coro desesperado - pereceremos!
Jesus, assim desperto, levantou-se prontamente, equilibrando o corpo cansado muito ereto, apesar da barca que por pouco não naufragava.
Sua majestosa silhueta parecia estar envolta em misteriosa luz, quando ergueu os braços, ordenando à tempestade:
- Calai-vos! E voltando-se para os amigos:- acalmai-vos! Homens, onde está a vossa fé?
Os ventos emudeceram e o lago baixou suas ondas, aplacado por misterioso imperativo.
Os discípulos olhavam-se, num misto de surpresa e alívio.
Envergonhados, voltaram-se para os remos. No compasso ritmado avançava a barca, ao compasso do coração daqueles homens que se perguntavam: quem será este homem, a quem os ventos obedecem?
Quando as nuvens negras dos pensamentos tormentosos cobrirem com escuro véu o horizonte de tuas esperanças, e a barca de teu coração agitar-se, desgovernada, sobre as ondas...
Quando as obrigações diárias, as dificuldades e os problemas, as surpresas - nem sempre agradáveis -, levarem-te a dizer: - que dia!
Lembra-te...acorda a mensagem do Cristo adormecida em ti e... Acalma-te!
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